Cid Teles, o que queria ser tudo
Aqui Jaz o Cid Teles
Sob esta pedra gelada,
O que queria ser tudo
E afinal nunca foi nada.
Sob esta pedra gelada,
O que queria ser tudo
E afinal nunca foi nada.
Rais me partam se esta porcaria de blog já parece um obituário, mas dói-me ver partirem, um a um, os grandes da minha galeria de indispensáveis. Os que guardam, secretamente, a restrita biblioteca dos valores que me vão construindo. Largos e irrecuperáveis pedaços de Humanidade.
Faleceu há dois dias um homem que faz muita falta à sua terra.
Tenho uma ânsia enorme de viver
Um desejo sangrento de lutar!
Quero dos outros tudo merecer
E mais do que ninguém ter para dar.
Avaro, quási a medo, ando a colhêr
Fôlhas de louro para me adornar;
Quantos agora passam sem me ver
Curvar-se-ão depois quando eu passar!...
Hei-de ter cetros, c'roas, pedrarias;
Castelos senhoriais, tôrres esguias,
A perder-se no Céu em rósea bruma...
Quero tudo na vida! Mas na morte,
Só desejo a altivez serena e forte
Duma onda desfeita em branca espuma!
Um desejo sangrento de lutar!
Quero dos outros tudo merecer
E mais do que ninguém ter para dar.
Avaro, quási a medo, ando a colhêr
Fôlhas de louro para me adornar;
Quantos agora passam sem me ver
Curvar-se-ão depois quando eu passar!...
Hei-de ter cetros, c'roas, pedrarias;
Castelos senhoriais, tôrres esguias,
A perder-se no Céu em rósea bruma...
Quero tudo na vida! Mas na morte,
Só desejo a altivez serena e forte
Duma onda desfeita em branca espuma!
Aspiração, por Manuel Cid Teles (Sombras, 1934)