Hoje roubei todas as rosas dos jardins
e cheguei ao pé de vós de mãos vazias.
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Nos últimos dias mal tenho ligado a televisão ou o rádio. Também raramente tenho lido notícias na web. De modo que no Domingo passado fui surpreendido na rua pelas capas dos jornais: tinha falecido um homem de que poucos ainda se lembram, Vasco Gonçalves um revolucionário de Abril. Um homem com causas, com ideais. Pode ter cometido erros, mas fez o que achava melhor para um povo, não para uma elite, ou para uma estatística. Um homem que, do pouco que sei dele, me parece muito, muito longe da tralha de gente oportunista que me enjoa sempre que vejo telejornais.
Hoje levantei-me tarde. Cheguei à rua, vi as manchetes e pensei que estava a sonhar. Era surreal: Álvaro Cunhal num jornal, Eugénio de Andrade noutro... e assim sucessivamente. De tal forma que fiquei baralhado. Carago, afinal quem é que morreu hoje?
Morreram os dois. O Cunhal não era flor que se cheirasse. Supremo guardião da verdade absoluta, dono da chave dos portões que dão para os amanhãs que cantam, admiro-o só pela dedicação à "sua" utopia. Respeito-o. Morreu o homem, um dia destes morrerá o "seu" partido, e não haverá então nenhuma bandeira a meia haste.
O Eugénio, permitam-me que lhe chame "o Eugénio", é só o maior poeta que eu já li. Leiam, também, peço-vos. Aqui, noutros sites, numa biblioteca, numa livraria, onde quiserem, mas leiam-no todo. Estou sem palavras. Nestas alturas, perdoem-me @s jovens que leiam isto, sinto-me assustado e penso: quando estes gajos morrerem todos, vou ficar sozinho no mundo com esta juventude idiota?...
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O outro sabia.
Tinha uma certeza.
Sou eterno, dizia.
Eu não tenho nada.
Amei o desejo
com o corpo todo.
Ah, tapai-me depressa.
A terra me basta.
Ou o lodo.
(Quase epitáfio, por Eugénio de Andrade. Os versos que começam este artigo são também dele, e neles ousei alterar uma palavra, para os poder dedicar aos três homens que faleceram. Aqui está a versão original do Poema para o meu amor doente.)