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terça-feira, 21 de junho de 2011

Nobrezas


Don Vito Corleone, por Mick Baltes (http://mickbaltes.de/blog/)

Ouvi dizer que Fernando Nobre (FN) não foi eleito presidente da Assembleia da República (AR) por falta de... experiência política. No entanto, é um dos poucos deputados que se pode gabar de ter sido sufragado directamente pelos cidadãos portugueses e, diga-se, com invejáveis resultados (16% nas presidenciais), além de ter sido cabeça de lista nas últimas eleições, também com sucesso. FN é um dos poucos deputados que são minimamente conhecidos pelos portugueses, e é também um dos poucos que não fizeram do partidarismo vida, um dos cada vez menos que fizeram algo na vida a que se possa chamar trabalho. Pois.

Por falar nisso, será que os bem-intencionados cinco milhões e meio de votantes das legislativas conhecem o curriculum vitae de Passos Coelho?

*

FN, o puro, o independente, o apartidário, após de concluir que "se não os vences, junta-te a eles", juntou-se aos vencedores. Ainda acabado chegar ao centrão, à ganância, quis ser tachista-mor e fez depender o seu mandato de deputado da eleição como presidente da AR. Previsivelmente, a máquina partidária castigou-o. Cabisbaixo, FN deu o dito por não dito e afinal fica em São Bento. [1] As máquinas partidárias, como qualquer organismo do Estado, sabem bem quem são os seus. São precisos alguns anos de submundo para se chegar a capo...

Não se é da famiglia de um dia para o outro. O homem tinha mesmo falta de experiência política.

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[1] Actualização, 4 de Julho de 2011:
Pensando bem, gostou muito de estar ao lado do "senhor doutor Pedro Passos Coelho", mas afinal não fica.

sábado, 18 de junho de 2011

Ícones duma época de sonhos desfeitos

Adore-se ou deteste-se, a maior ilha das Caraíbas é um país especial. Desde a Revolução de Fidel Castro e Che Guevara que Cuba sobrevive à ira do poderoso vizinho do Norte, inicialmente protegida pela URSS, depois quase fora do mundo, num planeta de paradoxos e contrastes. Independentemente das razões históricas e políticas deste isolamento, há algo de notável, que a cada esquina salta à vista do turista: a tremenda capacidade de sobrevivência e o engenho dos cubanos. Tudo é escasso, o que implica que tudo é valioso. Tudo é racionado e nada pode ser desperdiçado. Isto para chegar, como já viram, aos automóves.


Um Plymouth descansa em Havana. Creio que este modelo norte-americano começou a ser produzido no final dos anos 40.

O estafado parque automóvel cubano, na sua maioria, data dos anos 50 e 60. Elegantes espécimes de Ford, Buick, Pontiac, Plymouth, Chevrolet ou Cadillac, os yank tanks, alguns verdadeiros carros de luxo antes da revolução, coexistem agora ruidosa e esforçadamente com os mais rectilíneos e proletários Lada soviéticos ou os Trabant da Alemanha de Leste. Um milagre de longevidade, cujo mérito certamente pertence, em grande parte, aos mecânicos cubanos, bem formados, extremamente poupados e... desenrascados. Basta imaginar, por exemplo, que o belíssimo Plymouth amarelo da foto acima terá, provavelmente, um motor russo!


Perspectiva. Um cintilante carro vermelho visto detrás das grades. Alguém conhece a marca e o modelo?

Mais tarde ou mais cedo, se calhar até mais cedo do que seria de esperar, a inevitável abertura de Cuba acabará por provocar o desaparecimento destas jóias ambulantes das estradas esburacadas da mais bela das ilhas. Ficará a memória e certamente o já vasto registo fotográfico, testemunhas da grandeza destes ícones duma época de sonhos desfeitos e, sobretudo, da grandeza de um povo. Porque tive o privilégio de ver sofrer Cuba, esta é a minha contribuição.


Volkswagen "carocha" vermelho no Malecón.

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Algumas galerias com fotografias de automóveis cubanos:

domingo, 12 de junho de 2011

Utopia 2.0: entre o sofá e o chicote

O über geek Steve Wozniak revelou que nós, seres humanos, estamos destinados a ser os animais de estimação dos robôs. We're already creating the superior beings, disse. O fundador da Apple acredita que, muito brevemente, todo o trabalho será feito pelas máquinas, we're just going to have the easy life.

*

Entretanto, deste lado do Atlântico, chegam-nos notícias de escravatura. Nada que nos surpreenda ou aflija. Todos sabemos como são construídas as nossas estradas e as nossas pontes, por eslavos e africanos sem documentos nem direitos. Fomos pioneiros nessa indústria, e continuamos fiéis à nobre tradição mercantil, fechando os olhos, desenhando as novas rotas dos escravos. Fazendo História. No sofá.

sábado, 11 de junho de 2011

O povo quer o poder?


'Reality Show' por Gilad

Na sequência do artigo anterior, publico aqui [1] uma pequena análise de Maria Filomena Mónica (MFM) ao sistema eleitoral português. Longe do paternalismo hipócrita de Cavaco ou da chantagem da esquerda parlamentar (vote em nós senão a direita ganha e está tudo lixado), a autora fala da que é, para mim, a questão essencial para o futuro da vida pública deste país: do poder dos cidadãos, da sua representação nos órgãos de decisão e da sua capacidade de intervenção nos mesmos. Ciente, como no fundo todos nós, que monstro velho não aprende modas, MFM diz-nos que a única forma de se mudar a lei eleitoral é através da opinião pública. Temos de explicar, clara e sucintamente, que o atual sistema é negativo, porque nos retira poder. A melhoria não virá de dentro.

Perante isto, surgem-me algumas dúvidas: estarão os cidadãos conscientes de que o seu futuro e a sua qualidade de vida dependem de uma mudança de atitude, de maior exigência e de participação nas decisões? Estará a esquerda parlamentar, de rabinho quente, tão comprometida com o monstro, à altura dessa tarefa de consciencialização? Estará sequer interessada? E os movimentos ditos independentes ou libertários, terão capacidade para amadurecer, sair do pantanal de negação e auto-marginalização onde se afundaram?

Ou seja: o povo quer o poder? A esquerda quer que o povo queira o poder?

Tudo questões demasiado sérias, daí que não me surpreenda que ningém esteja muito preocupado com elas.

*

Estes partidos precisam de uma lição
por Maria Filomena Mónica
Expresso, 10 de junho de 2011

Há dias — quase todos — em que era melhor o Presidente da República estar calado. Eis o que, em vésperas da última eleição legislativa, resolveu dizer aos portugueses: "Se abdicarem de votar, não têm depois autoridade para criticar as políticas públicas". E se nós, cidadãos, não gostarmos das regras do jogo eleitoral em vigor? Não faz parte do meu código genético votar em branco, mas foi isso que fiz no último domingo. Por uma razão: os líderes partidários — todos — têm de meter na cabecinha a ideia de que a democracia não é deles.

Os secretários-gerais gostam de escolher os nomes que figurarão nas listas para deputados, um prémio dado à subserviência dos acólitos. Em 2010, 82% dos portugueses afirmaram estar descontentes com os partidos, mais 10% do que no ano anterior. A verificar-se a tendência, para o ano quase todos os portugueses estarão contra os partidos. A génese do atual regime foi infeliz: não fomos nós que con-quistámos as liberdades, mas os militares que, uma vez derrubado o Estado Novo, entregaram o poder aos partidos. Sem uma ligação com a população, estes aprovaram uma lei eleitoral destinada a protegê-los das tendências reacionárias do povo. Durante anteriores campanhas, o PSD e o PS afirmaram que iriam proceder a uma reforma. Uma vez no poder, não mexeram um dedo, pelo que continuamos a ter de escolher de entre a ementa cozinhada pelas maiorias partidárias. A minha voz, sei-o. não conta. Mas se milhares de cidadãos começarem a votar em branco — e foi isso que sucedeu no último domingo, com 148.058 eleitores a deslocarem-se até às mesas eleitorais para protestar — o cenário muda de figura. Luís Campos e Cunha apresentou uma boa ideia, ao afirmar que, no hemiciclo, deveriam existir cadeiras vazias correspondentes à percentagem de votos em branco na contagem global.

Se nós, eleitores, quisermos ter uma voz no Parlamento, precisamos da reintrodução de círculos uninominais (um candidato por partido e por círculo). O rei D. Pedro V que, em 1859, impôs este esquema, contra a vontade, note-se, dos partidos, morreu há muito. Hoje, não há Presidente da República, muito menos este, capaz de torcer o braço aos líderes partidários. Por conseguinte, a única forma de se mudar a lei eleitoral é através da opinião pública. Temos de explicar, clara e sucintamente, que o atual sistema é negativo, porque nos retira poder.

Se for necessário proceder-se a uma alteração constitucional — em vez dos atuais distritos teriam de existir pequenas unidades territoriais — que se avance. Mudar a Constituição não é o fim do mundo. E, por favor, não me venham com o argumento de que a criação de círculos uninominais favorece o caciquismo, em detrimento de um sistema que representaria o "interesse nacional" (um eufemismo para designar o interesse dos secre-tários-gerais). Não há esquemas perfeitos: mas o voto em alguém perto de mim dá-me uma maior possibilidade de o premiar ou punir. Não é pouco.

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[1] Só uma nota sobre copyrights. Comprei o jornal, logo é meu e julgo que o posso emprestar a quem quiser. Além disso, ao contrário do Expresso e da restante imprensa, quando posso, identifico as minhas fontes, ainda que, como é o caso deste semanário, me causem vergonha.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

O voto é um direito, mas pode ser só uma bufazita

A propósito dum tema que muita comichão me tem dado, um leitor do Bitaites dizia assim:

O voto é um direito por uma razão: para que as pessoas possam escolher entre votar e não votar.
Absolutamente verdade. Nada mais simples e claro. Chama-se, na sua essência, Liberdade. E não há que calar, não há que ter vergonha. Ripostar sempre, impiedosamente, aos que dizem "não votas, não tens direito a opinar". Há que expôr o ridículo do preconceito fascizóide da obrigação do voto, até porque, se o bom senso não chega, nos assiste a Constituição. Essa velha violentada e senil, há que esfregá-la sem dó na cara dos seguidistas e lambões que assim resmungam.


© Angeli

Num país livre, ninguém me obriga a votar. Muito menos "ir votar" assim, com aspas, esse acto puro e simples de legitimização das elites liderantes, dos tachistas sem vivência humana, dos lacaios das máfias, dos carreiristas, da abstracção monstruosa criada por décadas de demissão de um povo. Muito menos o chico-espertismo me negará o direito de exigir, no mínimo, que seja cumprido tudo aquilo que a dita Lei prevê. A cidadania, companheiros e camaradas carneiros, vai muito além da atitude preguiçosa de ir botar o papel na caixa, da farsa inócua, quase criminosa, de "votar no menos mau", essa sim, criadora do imenso vazio que tão bem conhecemos.

Ontem, na secreta certeza de que a sua participação nas decisões da vida pública (e até a sua capacidade de reivindicação, ou de protesto) se esgotaria na insutentável leveza do boletim de voto, cinco milhões e meio de cidadãos portugueses foram votar. Hoje, creio, sentem-se aliviados, como quem, às escondidas, acaba de largar uma bufa.

*

Para quem já conhece esta casa: sim, decidi regressar, mais cedo do que previa. Coisas da vida. Voltem quando quiserem, que são bem-vindos, sobretudo se vierem de Firefox 4 ou superior, caso contrário o template pode não ficar tão lindo... I'm working on it.



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