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quarta-feira, 28 de setembro de 2005

Indisponível

Levantei-me cedo. Tomei um duche. Não fiz a barba, apeteceu-me que se notasse o meu desprezo pelos padrões. Não ouvi os noticiários matinais, e fiz por evitar as bancas de jornais. Hoje o destaque sou eu, o auto-sufuciente, o indispensável.

Cheguei tarde. Sentia os olhos fundos, mais sonolentos que eu, e um vazio interior, talvez explicável pela falta do pequeno-almoço. A eficiência macabra que revelou, mostrou-me claramente que também ele um dia decidira deixar a humanidade em casa. Mexia-se bem, com um controlo soberbo de tudo o que o rodeava, sobretudo daquilo que lhe dizia respeito. Dizia o essencial. Não "apenas" o essencial, mas o essencial. O tempo podia medir-se pelo ritmo seguro dos gestos e dos sons que produzia. Era um ser impressionante, um ex-humano, apesar de tudo, mas quase perfeito. Senti-me grande, elevado pelo exemplo daquela criatura ideal, infinitamente acima dos ineficazes, dos ilógicos, da turba feliz e barbeada que lamentavelmente nunca atingiria aquele nível de sintonia com o líder.

Quando acabou, saí demonstrando a firmeza e indiferença que não precisara de aprender com ele. Olhar em frente, passada firme, auto-suficiente, indispensável, mas indisponível. Como tudo o que é indispensável. Senti um ruído no estômago. Era o vazio que mostrava um natural desconforto perante a poluição exterior. Não podia ser fome. De facto, pensei, jamais voltaria a ter fome. Foi quando a vi.

Insegura, ondulante. Constipada. Uma picada quase imperceptível na nuca, um ligeiro arrepio, e tive de correr para casa. Buscar o que lá deixei.

segunda-feira, 26 de setembro de 2005

Constituição Europeia

Alguém sabe o que é a mui falada Constituição Europeia? Numa perspectiva didáctica, dêem uma espreitadela a esta apresentação (PowerPoint). Talvez ajude um pouco.

Alive and kicking

Não, de facto ainda não morri. Nem morrerria agora, ainda que me pagassem. Pessoalmente, sinto-me tão espantosamente bem, que morrer seria um desperdício. Para mim e para o resto da Humanidade -- mas principalmente para mim. Lembro-me de mim desiludido e resignado, a uma tal magnitude que quase chegava a ter pena de mim... Assusto-me da facilidade com que este eu arrogante e extrovertido caía fulminado por qualquer desaire, qualquer dificuldade, pela simples subtileza de um olhar gelado. Mas o Sol acende às vezes em nós uns pedaços de lucidez, de coragem. Agora continuo desiludido, mas determinado. Vivo. E determinado.

De resto, sejamos sérios, eu não podia abdicar de continuar a viver neste planeta maravilhoso, assistindo a tão risíveis filmes e tão bizarros actores. Por Alá, que seria de mim -- e que tédio, senhores -- se não fossem os Big Brothers (os da TV e o outro), os incêndios (o que arde cura, sempre ouvi dizer), as roubalheiras (as descaradas e as envergonhadas), as leis (que não são abortos mas sim salsichas), o bin Laden, o seu amigo Bush Júnior (e as bombas com que ambos nos animam os telejornais), o BritCom, os fazedores de opinião, os Marcellos (não sei se ainda leva dois L), os Hermanos (não os nuestros, mas os Saraivas), os Salazaritos e os Estalinezitos, os centristas, os vendidos (perdoem a repetição), os boys, os toys, os futebóis, os majores, os capitães (Abril, águas mil), os Avelinos, as Fátimas (a virgem imaculada e a que nem tanto), os velhos senadores (e o fabuloso duelo intergaláctico), os banqueiros do povo (que tanto fazem em prol da criatividade em anúncios de TV), as tias (as ôcas) e as vacas loucas, os frangos do Ricardo...

Andei tanto tempo a queixar-me, e sem razão. Sob pena de me vir a tornar num velho chato e resmungão, tenho que ver as coisas doutra maneira. Toda esta riqueza, esta diversidade, só pode ter em mim duas consequências: uma longa gargalhada, e muita, muita determinação.



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