O caso é que ando a arrastar-me dolorosamente por uma zona complicada da minha existência. Como eu tenho pena da malta que tem tido o mau gosto de me aturar nos últimos tempos. Não deve ser nada bonito de ver, não senhor. Mas, então o que se passa, perguntarás. Resumindo numa frase, se calhar a rotunda é só uma curva, a curva imediatamente antes da recta final da minha juventude.
Desde que sei pensar (?) que sou gajo para ter ideias originais ou, pelo menos, pouco convencionais. Por exemplo, sempre odiei solenemente a ideia de ter uma profissão aborrecida, uma rotina chata (desculpa a redundância), um horário, meu deus, um horário! Quando eu tinha dezasseis anos, desenhava o futuro de forma simples e vaga -- i.e, perfeita: tirar um curso superior, arranjar um emprego bem pago, ganhar uma pipa de massa em meia dúzia de anos, depois pôr uma mochila às costas e partir à descoberta do mundo. De preferência acompanhado da mulher da minha vida. Férias vitalícias. Que bonito! Dez anos depois...
Ah, enganas-te! Dez anos depois, nada mudou. Continuo o mesmo inadaptado, o mesmíssimo utópico. As utopias variam um bocadito, evoluem, mas o espírito é o mesmo. Assusta-me quase sempre vagamente o facto de não me preocupar absolutamente nada com a perspectiva de eu ser um falhado em potência. Mas, por vezes -- e é o caso presente, amiga blogueira --, por vezes fico em pânico. Há dez anos atrás, se queres saber a minha opinião, eu era um puto banal, tímido, embora irrequieto, irritante até, de ideias a tender para o simples, mas muito pouco influenciável. Mesmo muito pouco. Agora, sinto-me a perder isso, a perder a minha independência!
Que bizarro. Pensando bem, tudo isto é óbvio. A verdade curta e grossa é que estou a ficar velho (leia-se adulto). No entanto (e segue-se uma confissão muito delicada), tenho mais medo da reacção das outras pessoas em relação a isso, do que propriamente das implicações físicas ou mentais que isso me traga directamente... Lá está: influenciável. Deixei o meu planetazinho ideal à prova de bala, à prova de tudo, e caí de cu na realidade.
Deixa-me contar-te uma. Imagina que um dia destes fiquei revoltadíssimo quando vi um escuteiro, fardado, pois claro, que seguia com os seus camaradas numa excursão, no mesmo autocarro que eu (de autocarro, pois claro), divertidíssimo, o estafermo, a destruir a porcaria do regulador de ar condicionado do lugar dele. Epa, subiram-me cá uns calores! Mas calei-me, eles eram muitos (muitas, sobretudo, ah, ah). Mas francamente, um escuteiro! Um escuteiro nunca mente. Um escuteiro ajuda velhinhas a atravessar a estrada. Um escuteiro faz pelo menos uma boa acção por dia. Eu acho que não me estou a fazer entender. A sério. Eu detesto escuteiros. Ou melhor: eu detesto os escuteiros, o grupo. Tal como detesto o exército. O problema é que normalmente eu ficaria a rir-me da situação e, se tivesse uma câmara de vídeo à mão, aquilo seria notícia de abertura do telejornal. "Grave crise no Corpo Nacional de Escutas, despoletada pela destruição de um autocarro da Rede de Expressos por um escuteiro em fúria. O indivíduo em causa tinha já antecedentes criminais, nomeadamente..." Com exageros e tudo. Mas não, bolas! Em vez de me divertir cínicamente, deu-me para uma de moralizar. Um escuteiro, ainda por cima, valha-me deus!...
De modo que estas reflexões me têm deixado pouco tempo (paciência?) para a prosa. Terá sido isso e...
5ª Edição!
Este também deu algum trabalho, embora menos. Não foi assim nada de especial.
...
OK, eu não sei mentir, tenta esquecer o que leste até agora. Tudo isto são desculpas. A razão pela qual eu não tenho escrito no blog é o facto de eu ter passado um mês inteirinho a ouvir o
Shoot Down dos Prodigy (com os irmãos Gallagher, dos Oasis), em altos berros, umas quinhentas vezes por dia. É claro que fiz uma pausa para recordar os Ornatos :) mas, sinceramente, já nem me lembro das músicas deles que, a propósito, adoro. "
Shot the gun / Shot the gun to the bang, bang, bang / Shot the gun / Shot the gun to the bang, bang, bang / ... / Too many tied to the / Too many tied to the bang, bang, bang / ... / Your time is running out", é tudo quanto sei. Vago, simples e hipnótico, como (me) convém. Perfeito. Além de que (outra confissão), a minha rotunda tem afinal um monte de saídas, e eu resolvi ir por todas ao mesmo tempo...
Agora uma palavrinha para ti, que provavelmente és a única pessoa que terá curiosidade para ler isto tudo até ao fim: obrigado pelo protesto. Deu frutos. O texto ficou uma bela merda, sem dúvida, e fiz um enorme esforço para parecer lunático -- normalmente isso é espontâneo! Mas nem tudo é mau. Graças ao empurrãozinho, por ter dito estas banalidades já me sinto melhor. Desabafei. Estou confiante. Sinto-me mais maduro.
Mais... adulto.
...
Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah!!!...
;)
(Obrigado. Um beijinho.)