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segunda-feira, 4 de abril de 2005

Your time is running out

O caso é que ando a arrastar-me dolorosamente por uma zona complicada da minha existência. Como eu tenho pena da malta que tem tido o mau gosto de me aturar nos últimos tempos. Não deve ser nada bonito de ver, não senhor. Mas, então o que se passa, perguntarás. Resumindo numa frase, se calhar a rotunda é só uma curva, a curva imediatamente antes da recta final da minha juventude.

Desde que sei pensar (?) que sou gajo para ter ideias originais ou, pelo menos, pouco convencionais. Por exemplo, sempre odiei solenemente a ideia de ter uma profissão aborrecida, uma rotina chata (desculpa a redundância), um horário, meu deus, um horário! Quando eu tinha dezasseis anos, desenhava o futuro de forma simples e vaga -- i.e, perfeita: tirar um curso superior, arranjar um emprego bem pago, ganhar uma pipa de massa em meia dúzia de anos, depois pôr uma mochila às costas e partir à descoberta do mundo. De preferência acompanhado da mulher da minha vida. Férias vitalícias. Que bonito! Dez anos depois...

Ah, enganas-te! Dez anos depois, nada mudou. Continuo o mesmo inadaptado, o mesmíssimo utópico. As utopias variam um bocadito, evoluem, mas o espírito é o mesmo. Assusta-me quase sempre vagamente o facto de não me preocupar absolutamente nada com a perspectiva de eu ser um falhado em potência. Mas, por vezes -- e é o caso presente, amiga blogueira --, por vezes fico em pânico. Há dez anos atrás, se queres saber a minha opinião, eu era um puto banal, tímido, embora irrequieto, irritante até, de ideias a tender para o simples, mas muito pouco influenciável. Mesmo muito pouco. Agora, sinto-me a perder isso, a perder a minha independência!

Que bizarro. Pensando bem, tudo isto é óbvio. A verdade curta e grossa é que estou a ficar velho (leia-se adulto). No entanto (e segue-se uma confissão muito delicada), tenho mais medo da reacção das outras pessoas em relação a isso, do que propriamente das implicações físicas ou mentais que isso me traga directamente... Lá está: influenciável. Deixei o meu planetazinho ideal à prova de bala, à prova de tudo, e caí de cu na realidade.

Deixa-me contar-te uma. Imagina que um dia destes fiquei revoltadíssimo quando vi um escuteiro, fardado, pois claro, que seguia com os seus camaradas numa excursão, no mesmo autocarro que eu (de autocarro, pois claro), divertidíssimo, o estafermo, a destruir a porcaria do regulador de ar condicionado do lugar dele. Epa, subiram-me cá uns calores! Mas calei-me, eles eram muitos (muitas, sobretudo, ah, ah). Mas francamente, um escuteiro! Um escuteiro nunca mente. Um escuteiro ajuda velhinhas a atravessar a estrada. Um escuteiro faz pelo menos uma boa acção por dia. Eu acho que não me estou a fazer entender. A sério. Eu detesto escuteiros. Ou melhor: eu detesto os escuteiros, o grupo. Tal como detesto o exército. O problema é que normalmente eu ficaria a rir-me da situação e, se tivesse uma câmara de vídeo à mão, aquilo seria notícia de abertura do telejornal. "Grave crise no Corpo Nacional de Escutas, despoletada pela destruição de um autocarro da Rede de Expressos por um escuteiro em fúria. O indivíduo em causa tinha já antecedentes criminais, nomeadamente..." Com exageros e tudo. Mas não, bolas! Em vez de me divertir cínicamente, deu-me para uma de moralizar. Um escuteiro, ainda por cima, valha-me deus!...

De modo que estas reflexões me têm deixado pouco tempo (paciência?) para a prosa. Terá sido isso e...



5ª Edição!


Este também deu algum trabalho, embora menos. Não foi assim nada de especial.

...

OK, eu não sei mentir, tenta esquecer o que leste até agora. Tudo isto são desculpas. A razão pela qual eu não tenho escrito no blog é o facto de eu ter passado um mês inteirinho a ouvir o Shoot Down dos Prodigy (com os irmãos Gallagher, dos Oasis), em altos berros, umas quinhentas vezes por dia. É claro que fiz uma pausa para recordar os Ornatos :) mas, sinceramente, já nem me lembro das músicas deles que, a propósito, adoro. "Shot the gun / Shot the gun to the bang, bang, bang / Shot the gun / Shot the gun to the bang, bang, bang / ... / Too many tied to the / Too many tied to the bang, bang, bang / ... / Your time is running out", é tudo quanto sei. Vago, simples e hipnótico, como (me) convém. Perfeito. Além de que (outra confissão), a minha rotunda tem afinal um monte de saídas, e eu resolvi ir por todas ao mesmo tempo...

Agora uma palavrinha para ti, que provavelmente és a única pessoa que terá curiosidade para ler isto tudo até ao fim: obrigado pelo protesto. Deu frutos. O texto ficou uma bela merda, sem dúvida, e fiz um enorme esforço para parecer lunático -- normalmente isso é espontâneo! Mas nem tudo é mau. Graças ao empurrãozinho, por ter dito estas banalidades já me sinto melhor. Desabafei. Estou confiante. Sinto-me mais maduro.

Mais... adulto.

...

Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah!!!...

;)

(Obrigado. Um beijinho.)

6 comentários:

Anónimo disse...

Gostei muito do teu texto. Exprime algo de muito profundo na tua personalidade, o que, nos tempos que correm, é muito raro de se ver... Gostei da parte em que te defines também utópico. Pelo meu lado, creio que são as utopias que fazem andar este mundo demasiado parado. Força e um abraço!

SweetSerenity disse...

"Um dia dir-te-ei o que fiz."
Cumprido é devido: "a minha rotunda tem afinal um monte de saídas, e eu resolvi ir por todas ao mesmo tempo..."

Começando do início...
"O caso é que ando a arrastar-me dolorosamente por uma zona complicada da minha existência."
Pelo que me contas, "arrastar" será o verbo mais apropriado, realmente. E alegro-me com o facto de partilhares o motivo por aqui :)

Costuma-se dizer que de sete em sete anos há uma grande mudança na vida de uma pessoa. Não se isso será completamente verdade, mas não me parece muito descabido. O que não deixa de ser engraçado, porque me vem à ideia um dispositivo programado para despertar de sete em sete anos. Enfim... talvez estes teus momentos sejam um despertar. (Claro está sem desvalorizar o que sentes.) De qualquer das formas, consigo compreender-te. E apesar de ser, normalmente, nessas alturas em que me dá mais vontade de escrever, também compreendo que esses pensamentos te ocupem demasiado a cabeça para teres clareza para escrever algo. A mim também me acontece que essa fuja, assim de repente. Mas mais uma vez, alegro-me por teres escrito.

"(...) sempre odiei solenemente a ideia de ter uma profissão aborrecida, uma rotina chata (desculpa a redundância), um horário, meu deus, um horário!"
Será a minha altura de exclamar. Eu penso o mesmo! É verdade... Há quem diga que a juventude nunca puxou muito para "rotinices", mas sinceramente eu tenho aversão a tudo que implique monotonia. Horários também não são comigo. Não chego a horas a lado nenhum, mas digo mesmo a lado nenhum. O que nem é caso para orgulho.
Mas eu... também penso como pensavas. Gostava de ter uma vida diferente, com aventuras (nada para o radical) simplesmente diversificado que me preenchesse a alma e me tornasse mais culta. E imagino que daqui a uns anos venha a aperceber-me que pouco ou nada mudou. Até porque de ideias tenho aos montes, mas de actos já não posso dizer o mesmo. A iniciativa nunca fez parte do meu leque de características, ao contrário, da preguiça que até me inunda ser. E, por isso, não sei que te dizer que possa ser reconfortante. Só mesmo, apenas, que compreendo que isso te ocupe demasiado a mente. É algo que dá muito que pensar e, sinceramente, acho que pode deitar abaixo uma pessoa.
Em relação à independência que dizes ter perdido, talvez se explique pelo facto de, se calhar, agora, te deixares envolver mais nas relações que tens com as pessoas. Talvez devido ao dia-a-dia e a tudo o mais a que sejas obrigado (ou não). Vejo mais depressa um ar carrancudo e anti-social num jovem do que propriamente num adulto. (Mas isto sou eu a pensar...) O jovem talvez seja mais despreocupado; talvez não, é mesmo; não carrega aos ombros o que o adulto carrega.
Talvez seja mesmo isso, não? Estás na fase de adulto... e já não achas piada a brincadeiras estúpidas de escuteiros. Hmm... será isso amadurecer?

E, agora, um sorriso muito grande por ver palavras tuas aqui no Blog e pelo efeito que o meu protesto causou (coisa que nunca pensei e para a qual não tenho jeitinho).
Uma última coisa: "O texto ficou uma bela merda" - não não... isso é mentira :) Diz tanto e fala de algo muito digno de se reflectir vezes e vezes...

(De nada. Outro beijinho :) )

P.S. Talvez tenha exagerado no tamanho do comentário, mas quis (pelo menos tentar) comentar cada pedaço do texto. E finalmente consegui-o! É que de cada vez que o tentei era chamada para algo e não pude acabar o comentário. À custa disso, já li o texto aí umas três vezes :)

SweetSerenity disse...

http://blogdogatopreto.blogspot.com/2004/12/ordeno-te-que-nunca-me-obedeas.html#comments
Só hoje o li e é impressionante como o velho se identifica com este teu texto :) Li-o mesmo na altura certa. E devo acrescentar que está fabuloso. Sem exageros. E fabuloso talvez não seja a melhor palavra para descrever o texto. Adorei-o.
*

Unknown disse...

Obrigado a ambos. Não estou certo se devia agradecer aqui ou nos vossos blogs, mas... aqui já está.

E nos vossos, agradecerei continuando a lê-los.

Abraços e beijinhos!

Anónimo disse...

´Nao fales do qe nao sabes´!


"O escutismo nao se explica, sente´se"

Pensa duas vezes antes de escreveres o qe qer qe seja...

Unknown disse...

Nunca pedirei a ninguém, muito menos a um anónimo, muito menos ainda no meu site, para expressar a minha opinião.



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