segunda-feira, 25 de junho de 2007
sexta-feira, 2 de março de 2007
Um parágrafo
Do Manual Prático de Delinquência Juvenil:
É confortável essa postura de que se sabe de todas as merdas do mundo e que só não se pode corrigi-las por causa da apatia das massas bovinas. É como se com isso nos livrássemos de todo o mal, de toda e culpa e porque não dizer? de toda a responsabilidade. Essa postura não deixa de ser cínica. Cínica porque esconde um medo. Medo de que não exista o mal, nem a culpa e muito menos responsabilidade. Medo de encarar o monstro sem se transformar nele.
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007
Tu risa
(Teu riso)
Quítame el pan, si quieres,
quítame el aire, pero
no me quites tu risa.
No me quites la rosa,
la lanza que desgranas,
el agua que de pronto
estalla en tu alegría,
la repentina ola
de plata que te nace.
Mi lucha es dura y vuelvo
con los ojos cansados
a veces de haber visto
la tierra que no cambia,
pero al entrar tu risa
sube al cielo buscándome
y abre para mi todas
las puertas de la vida.
Junto al mar en otoño,
tu risa debe alzar
su cascada de espuma,
y en primavera, amor,
quiero tu risa como
la flor que yo esperaba,
la flor azul, la rosa
de mi patria sonora.
Ríete de la noche,
del día, de la luna,
ríete de las calles
torcidas de la isla,
ríete de este torpe
muchacho que te quiere,
pero cuando yo abro
los ojos y los cierro,
cuando mis pasos van,
cuando vuelven mis pasos,
niégame el pan, el aire,
la luz, la primavera
pero tu risa nunca
porque me moriría.
Pablo Neruda
Pintura: Mary Beth Thielhelm, Azurean Sea
quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007
Sim
No meu país as pessoas não são livres. No meu país as pessoas não decidem, excepto sobre aquilo que não pode fazer sombra àqueles que mandam no meu país. Eu não acredito no meu país. Não acredito na sua História, nascida do belicismo de um bárbaro ambicioso, glorificada pela submissão de seres humanos que queriam ser livres e pelo saque do seu pão. Não posso acreditar numa Humanidade com memória selectiva, quanto mais num país assim. Eu não acredito naqueles que nos tentam fazer acreditar que governam o meu país. Eu não aceito sequer que poderei alguma vez ser livre enquanto deixar que me governem. Eu não acredito no meu país.
Este não é o meu país. O meu país são as alvoradas soalheiras que há tanto não via, pois me perdia, horas antes, na madrugada da decepção. Na embriaguez de decepção que é o meu país. O meu país é o lugar onde se abraçam o Mondego e o Amazonas. O meu país é aquele abraço, ora firme, ora terno, o meu país é o sorriso depois de um beijo roubado a quem se ama.
O meu país não é livre. Eu não acredito no meu país. Mas, por um bocadinho de liberdade, de bom senso, de decência, por um niquinho que seja de utopia, eu vou votar. Só desta vez, eu vou votar. Sim!
Dos eunucos
A propósito do que mais se fala praí:
Só os padres não prescindem de dar conselhos sobre a reprodução e a sexualidade!"
quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007
Poema terceiro
Isto é mais
tão mais
que a simples formalização do óbvio
é um contrato que assino
com o perfume que me deixas
quando vais
Vulgar sublime que sou
é como quem diz
não posso ir, mas vou
Sei quem és
ilha
tão ilha
amante do Sol
viajante jangada sem vela
tão ilha tão bela
dona de ti e
dona de todo o chão que pises
Sei que não te escondes
senão sob sorrisos
felizes
Amo-te
assim
sem mais
amo-te
amo-te
mesmo sabendo que vais
e aos suaves cabelos
de lava incandescente
sob os quais
uns lábios doces disseram
outra verdade urgente
que agora repito
como quem ficou
-- Não posso ir, mas vou!
Adelino
Pintura: Yves Tanguy, Through birds, through fire, but not through glass (1943)